terça-feira, 28 de outubro de 2008

Olhar da rua


Há pessoas que dizem pensar na vida quando colocam a cabeça no travesseiro. Comigo não é assim. Tenho uma grande intimidade com a rua, vejo nela tudo o que sou ou o que podia ser.
Caminhando devagar, apenas para observar os elementos que compõem a rua, noto como começaram as casas e lojas. Porém o que me chama atenção é que a rua não é tão bela quanto os poetas declamavam em suas belas prosas. A rua é o espelho do homem. Cada traço, cada curva, cada esquina, cada calçada, cada buraco, cada voz estridente a soar em nossos ouvidos foi causada por nós mesmos. Posso estar equivocada, mas entendo que a rua não é o lugar ideal de lar para famílias e nem o ambiente certo de educar cidadãos.
Quando passo pelas crianças, nas ruas, eu vejo os dois lados da realidade. De um lado filhos e mães de mãos dadas, passeando e os filhos sorrindo, sorrindo talvez por terem recebido um brinquedo que almejavam, ou quem sabe apenas por terem ali, ao seu lado, alguém para chamar de mãe. Do outro lado da rua, ao invés de mãos dadas, eu vejo pequenas mãos estendidas, estendidas e sujas da própria rua pedindo dinheiro e muitas vezes só um pouco de feijão e óleo, para que as outras pequeninas mãos que esperam em casa possam ter, assim, uma refeição digna.
Eu olho para trás e percebo que a rua não é apenas um cenário para as ações humanas. A rua é casa, é escola, é ambiente de trabalho e acima de tudo é conselheira. Talvez ela até possa nos mostrar o certo e o errado, e nós como bons humanos preferimos não enxergar.

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